Lembro-me claramente da vez em que entrei na enfermaria de oncologia pediátrica às 7h da manhã e encontrei a pequena Sofia, 6 anos, com uma touquinha de bebê nos cabelos, rindo enquanto fazia bolhas de sabão com o pai entre uma sessão e outra de quimioterapia. Na minha jornada — sou jornalista com 32 anos e mais de 10 anos cobrindo e acompanhando de perto cases em oncologia pediátrica — vi famílias que atravessam o pior e, ao mesmo tempo, mostram uma resiliência impressionante.
Neste artigo vou explicar de forma prática e humana o que é oncologia pediátrica, como são feitos os diagnósticos e tratamentos, quais são os sinais de alerta, como funciona o suporte à família e onde buscar informações confiáveis. Quero que você saia daqui com noções claras, recursos úteis e confiança para tomar decisões ou apoiar quem precisa.
O que é oncologia pediátrica?
Oncologia pediátrica é a especialidade médica responsável pelo diagnóstico e tratamento de tumores em crianças e adolescentes (0–19 anos).
Diferente do câncer em adultos, os tipos mais comuns na infância não estão relacionados a hábitos de vida; tratam-se majoritariamente de leucemias, tumores do sistema nervoso central e tumores sólidos como neuroblastoma e tumor de Wilms.
Por que é uma área distinta?
- Biologia do tumor: tumores pediátricos têm origem genética e biológica diferente dos tumores adultos.
- Tratamento multidisciplinar: envolve oncologistas, cirurgiões, radioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e pedagogos.
- Foco no crescimento: preocupação com efeitos tardios que podem afetar crescimento, desenvolvimento cognitivo e fertilidade.
Sinais de alerta — quando procurar um especialista?
Você já se perguntou quais sintomas justificam uma investigação imediata?
- Febre persistente sem causa aparente;
- Manchas roxas frequentes ou sangramentos inexplicáveis;
- Dor óssea ou aumento abdominal persistente;
- Dor de cabeça intensa e contínua ou vômitos matinais (sinais de pressão intracraniana);
- Massa visível ou palpável (barriga, pescoço, glúteo).
Se um sintoma persiste por mais de duas semanas, procure avaliação médica e, se necessário, encaminhamento para oncologia pediátrica.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico costuma envolver etapas claras e coordenadas.
- Anamnese e exame físico detalhado;
- Exames de sangue (hemograma, marcadores);
- Imagem: ultrassom, tomografia (TC), ressonância magnética (RM);
- Biópsia ou punção aspirativa para identificar o tipo celular;
- Estadiamento para saber extensão da doença.
Cada passo tem um propósito: confirmar o diagnóstico e encontrar a opção terapêutica mais segura e eficaz para aquela criança.
Tratamentos principais e por que funcionam
Os tratamentos combinam várias modalidades. Vou explicar de forma simples o “porquê” de cada um.
Quimioterapia
Uso de medicamentos que atacam células em divisão rápida. Funciona porque muitos tumores infantis proliferam rapidamente.
Risco: efeitos colaterais agudos (náusea, baixa de defesa) e efeitos tardios (cardiotoxicidade, problemas de crescimento).
Cirurgia
Remoção do tumor quando possível. A cirurgia tem objetivo curativo quando é possível retirar o tumor com margens seguras.
Radioterapia
Usada para tumores localizados ou para controle de sintomas. Hoje há técnicas mais precisas que reduzem danos a tecidos em desenvolvimento.
Transplante de medula óssea (HSCT)
Indicado em alguns casos de leucemia e tumores que exigem doses altas de quimioterapia. Renova o sistema hematopoiético após tratamento intensivo.
Terapias-alvo e imunoterapia
Tratamentos mais recentes que atuam em alvos moleculares ou estimulam o sistema imunológico. Prometem tratamentos menos tóxicos e mais precisos.
O que esperar durante o tratamento: rotina e efeitos colaterais
O tratamento muda a rotina da família. Exige visitas frequentes, hospitalizações e adaptações na escola e no trabalho.
- Efeitos imediatos: náuseas, perda de apetite, infecções, queda de cabelo;
- Cuidados domiciliares: higiene, controle de febre, alimentação adequada;
- Monitoramento dos efeitos tardios: avaliações cardiológicas, hormonais e neuropsicológicas ao longo dos anos.
Não se trata apenas de tratar o tumor. A criança precisa de suporte integral.
- Psicologia infantil: ajuda a lidar com medo, dor e mudanças na rotina;
- Equipe de pedagogia hospitalar: mantém aprendizado e rotina escolar;
- Assistência social: garante benefícios, transporte e apoio financeiro quando necessário;
- Grupos de apoio: trocar experiências com outras famílias é terapêutico.
Prognóstico: como andam as taxas de cura?
As taxas de cura variam por tipo de tumor e acesso a tratamento. Globalmente, a sobrevivência de crianças com câncer aumentou nas últimas décadas.
Por exemplo, em países de alta renda, taxas de cura para câncer infantil ultrapassam 80% em alguns tipos (ver St. Jude e WHO).
No Brasil, o desafio ainda é reduzir atrasos no diagnóstico e garantir acesso igualitário às terapias (dados e iniciativas podem ser consultados no INCA e em sociedades científicas nacionais).
Polêmicas e desafios atuais
Existem debates importantes na área.
- Acesso desigual a tratamentos avançados entre regiões e países;
- Uso de terapias experimentais: esperança vs. riscos;
- Impacto a longo prazo: como balancear cura e qualidade de vida futura;
- Financiamento e políticas públicas para implementação de protocolos nacionais.
É crucial conversar com a equipe médica e buscar segunda opinião quando houver opções complexas ou experimentais.
Como acompanhar e apoiar uma criança em tratamento?
- Esteja presente: presença e escuta são terapêuticas;
- Mantenha a rotina escolar e brincadeiras adaptadas;
- Cuidar da saúde mental dos pais: pais exaustos prejudicam o cuidado;
- Organize documentos médicos e mantenha um caderno com perguntas para médicos;
- Procure grupos locais e ONGs que oferecem suporte prático e emocional.
Onde buscar informações confiáveis?
- INCA – Instituto Nacional de Câncer (https://www.inca.gov.br)
- WHO – World Health Organization (https://www.who.int)
- St. Jude Children’s Research Hospital (https://www.stjude.org)
- Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica — SOBOPE (https://www.sobope.org.br)
Perguntas frequentes (FAQ)
1. O que causa câncer em crianças?
A maioria dos casos não tem causa ligada ao estilo de vida. Muitos estão associados a alterações genéticas e ao desenvolvimento embrionário das células.
2. Crianças com câncer podem ter vida normal depois do tratamento?
Muitas sim, especialmente com diagnóstico e tratamento adequados. No entanto, é importante acompanhar possíveis efeitos tardios e reabilitação.
3. Quando buscar um segundo parecer?
Sempre que houver dúvidas sobre o diagnóstico, plano terapêutico agressivo ou uso de protocolos experimentais. Um segundo parecer pode trazer alternativas e segurança.
4. Existe prevenção para câncer infantil?
Não há prevenção direta para a maioria dos tumores pediátricos, mas diagnósticos precoces e programas de rastreamento em grupos de risco melhoram resultados.
5. Como financiar tratamentos caros?
Procure unidades de referência públicas, programas governamentais, associações de pacientes e ONGs que oferecem apoio financeiro e logístico.
Conclusão
Oncologia pediátrica é um campo de alta complexidade que exige técnica, empatia e um olhar multidisciplinar. Com diagnóstico precoce, acesso a tratamentos adequados e suporte integral, muitas crianças têm chance real de cura.
Resumo rápido dos pontos principais:
- Fique atento aos sinais de alerta e busque avaliação rápida;
- O tratamento é multidisciplinar e precisa considerar efeitos imediatos e tardios;
- O suporte psicológico, educacional e social é tão importante quanto a terapia médica;
- Procure informações em fontes confiáveis e não hesite em pedir segunda opinião.
E você, qual foi sua maior dificuldade com oncologia pediátrica? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Fonte utilizada: Instituto Nacional de Câncer (INCA) — https://www.inca.gov.br. Também consultei materiais do WHO (https://www.who.int) e do St. Jude Children’s Research Hospital (https://www.stjude.org).